A DIRETIVA EUROPÉIA SOBRE FONTES RENOVÁVEIS DE ENERGIA

Renato Augusto Pontes Cunha*

A recente proposição da Comissão Européia amadurece uma iniciativa dos chefes de Governo daquele continente, quando em março de 2007, estabeleciam que os biocombustíveis passariam a representar pelo menos 10% dos combustíveis utilizados para transporte na Europa até 2020. A Lei Norte Americana já prevê um consumo de Etanol de 36 bilhões de galões em 2022 (+- 136 bilhões de litros). A “diretiva” européia, como é chamada, ainda precisa de formalidades para se tornar um marco regulatório definitivo e obrigatório, no entanto, é inequívoco que o velho continente também está perseguindo medidas de redução do efeito estufa e em que pesem as exigências de seus produtores agrícolas quanto ao recrudescimento de barreiras de importação, o fato é que o Brasil é um candidato a supridor de etanol e biocombustíveis, com uma experiência consolidada, na matéria, por mais de trinta anos, onde só no ano passado, o etanol apresentou cerca de 45% de todo o combustível, utilizado por veículos leves em nosso país, permitindo reduções de emissões de Co2 em 25,8 milhões de toneladas, conforme dados apurados pela União da Indústria da Cana-de-Açúcar – Unica/São Paulo.

Os produtores europeus de beterraba, que no passado, implantaram suas culturas no lugar de florestas, efetuam agricultura sobretudo, alicerçada em modelos sustentados por amplos subsídios, razão pela qual temem a cana-de-açúcar, cultura líder na agroenergia brasileira e detentora de balanço energético positivo, notadamente pela existência de fibra; o bagaço de cana, responsável pela bioeletricidade que já colabora com a matriz energética do país, afora o etanol produzido. A bioeletricidade representa cerca de 5%, sendo 3% para o auto-consumo de energia e +- 2% para injeção nas redes de energia elétrica, potencial que pode triplicar nos próximos anos. Em 2008 são previstos mais de 2000 mw hora de fornecimento, excedente, pelo setor sucroalcooleiro.

Por outro prisma, uma grande e inequívoca realidade refere-se ao fato da cana-de-açúcar ser a mais adequada matéria-prima para a fabricação do etanol, dentre outras vantagens, por não interferir em cadeias alimentares, como ocorre com a cultura do milho e da soja, principalmente no biodiesel. Além do mais, a cana gera a vinhaça, que por ser um fertilizante líquido, rico em potássio, também economiza água nos canaviais. A cana sofre assim um bombardeio dos concorrentes que tentam impingir inverdades ao Brasil, chegando ao cúmulo de amedrontarem o mundo com a tentativa de formação de opinião, infundada e fantasiosa, de que a cana tomará espaço de árvores na Amazônia, região úmida e inadequada para o cultivo da gramínea.

No entanto, o mundo já começa a tomar ciência de que as áreas de canaviais do nosso país só chegam a cerca de 0,6% do território. A soja ocupa 21 milhões de hectares e o milho, em torno dos 12 milhões de hectares. A cana-de-açúcar utiliza apenas 6 milhões, de um total de 850 milhões de hectares. Os biomas da floresta amazônica, os remanescentes de mata atlântica e o Pantanal não estão sendo degradados pelo nosso segmento, até porque as novas fronteiras obedecem a zoneamentos que impedem por lei, plantações naquelas áreas. São necessários Eia – Rimas (Estudos de Impactos Ambientais) para funcionamento das indústrias sucroalcooleiras, e, não seriam concedidas licenças em desacordo com as normas ambientais.

O setor sucroalcooleiro nacional, por conseqüente, vem adotando atitude transformadora desde os primórdios do proálcool nos anos setenta, tendo evoluído em tecnologias, internas, de produção, respeitando o meio-ambiente e gerando empregos formais que atingem a mais de 1 (hum) milhão de postos, afora aqueles inúmeros atrelados ao cluster agroindustrial. No tocante a mercados, o segmento evoluiu do carro à álcool para os automóveis flex e está perseguindo os ônibus movidos a etanol, muito comuns na Suécia e embrionários em São Paulo , além de prevista também, a introdução das motocicletas flex, no 2° (segundo) semestre do ano em curso. A presença do etanol caminha, ainda, na direção da aviação, tanto na área agrícola como na de passageiros. O exemplo brasileiro do etanol é então indutor da produção na China, Índia, África, Tailândia, Colômbia e Caribe, só para citar alguns países e continentes, razão pela qual começa a se consolidar em contexto global de produção, o que pode definitivamente, inserir o etanol como “commoditie” limpa, energética, do terceiro milênio.

* Presidente do Sindicato da Indústria do Açúcar e do Álcool no Estado de Pernambuco - SINDAÇÚCAR
(rcunha@sindacucar.com.br)