Os sem-terra e a agricultura
Renato A. Pontes Cunha

O mundo globalizou-se, o muro de Berlim caiu. Atualmente busca-se a convergência civil, no intuito maior de incrementar as qualidades de vida do globo. Mas o primitivismo e a ausência de visão política de algumas lideranças que promovem invasões às propriedades rurais e urbanas no Brasil, são fatores adversos à nossa vigorosa agricultura. Em alguns casos, até cabe a pergunta: Será que nossos concorrentes internacionais estão financiando aqueles que instrumentalizam os sem terra a destruir o estado de direito no Brasil? Certamente não é esse o caminho para a reforma agrária. Ao contrário, buscam desmoralizar o nosso Presidente e causam instabilidade ao fluxo de investimentos dos quais o País tanto precisa para crescer. Ora, crescer é aprimorar as relações de comércio exterior, atraindo, sobretudo, investimentos em longo prazo. E todos sabem o quanto é difícil promover um crescimento em bases sólidas e estáveis quando o contexto interno tende à desordem civil e o conceito de propriedade é posto em causa.

Os setores do Governo, em Brasília, ligados às questões fundiárias devem exercer seu papel de gestores de conflitos e formuladores de política agrária, de forma neutra, atuando em harmonia com as propostas do Governo a que servem. Espera-se que reformulem suas ações implementando um tipo de agenda compatível com as orientações do Presidente.

A agricultura do País já deslanchou: gera cerca de 37% dos empregos no campo e responde diretamente por 27% do PIB. Mas, ainda precisando crescer e, sobretudo, necessita consolidar novas fronteiras interioranas em regiões vocacionadas para o agronegócio, tais como o oeste do Nordeste; circunvizinho ao Rio São Francisco, o sul do Pará, o norte e o leste do Mato Grosso, o sul do Piauí, o leste do Maranhão, etc. A inclusão social precisa ser processada com empreendimentos que levem à segurança alimentar e garantam o emprego. As conquistas agrícolas de um País à luz da livre iniciativa, atreladas à responsabilidade social, formam o caminho para a justiça social. Produção familiar, cooperativa de pequenos produtores e fixação do homem à terra precisam ser feitas com paz social e harmonia nas cadeias produtivas. O caminho para a emancipação de um povo trabalhador é o da busca do entendimento e não o da política de provocações.

Pernambuco, vem liderando as invasões de terra, o que é imperdoável e oneroso. Ações de caráter provocatório, lideradas por pessoas sem capacitação política vêm impondo prejuízos à nossa agricultura. A questão não nos parece fundiária, mas tem cunho de profunda ambigüidade: quem está por trás disso tudo, a que interesses servem?...
A reforma agrária não foi concebida para atingir terras produtivas. O País dispõe de 90.000.000 de hectares disponíveis e agricultáveis. As invasões de caráter anárquico a que assistimos não têm sido capazes de fomentar culturas de subsistência e, ao difundirem um clima de provocação - que às vezes fazem pensar a alguns movimentos que ocorreram antes de 64 - podem levar à quebra de um diálogo que é, condição sine qua non para a construção de um clima que propicie o investimento, a produção e o emprego. Ora, liderança pressupõe coerência. E o pensar, com sensatez, tem que se traduzir no agir.

* Presidente do Sindicato da Indústria do Açúcar e do Álcool no Estado de Pernambuco - SINDAÇÚCAR