A Cultura do Reúso da Água
Renato A. Pontes Cunha

Inúmeras são as análises, inclusive de acreditados meios científicos, que consideram a água como o mais importante insumo do atual século. Através delas, observa-se que, na atualidade, a água tem seu conceito atrelado à disponibilidade finita. Não é mais considerada um insumo infinito, como ocorria até bem pouco tempo.
No nosso País, em que pesem nossas extensas bacias hidrográficas, além do fato de possuirmos cerca de 12% da água potável do mundo, assistimos ao despertar da consciência sobre o risco de escassez dos recursos hídricos, notadamente face ao desequilíbrio na relação oferta x demanda em locais onde a oferta está concentrada longe dos centros de consumo.
O setor sucroalcooleiro já desenvolveu a cultura da economia da água. Desde os anos 80 vem utilizando em seu processo industrial sistemas de reúso de água, normalmente via circuitos fechados de “sprays” e torres de resfriamento.
O desperdício, no entanto, deve ser combatido co afinco. O futuro precisa ser trabalhado no contexto de melhores perspectivas quanto à qualidade de vida e, nesse particular, o zelo pela armazenagem de água é imperioso.
A água é vital para a produção dos nossos alimentos; a água potável é imprescindível para a vida humana. Se as fontes são escassas ou distantes, nada mais racional do que o uso inteligente, por exemplo, via reúso.
Inquestionável é que as populações crescem e os mananciais de água vêm sendo poluídos ou destruídos. Portanto, a gestão da oferta desse insumo deve envolver reúso potável, reúso não potável, reúso destinado à manutenção de vazão de cursos de água, reúso para recarga dos aqüíferos subterrâneos, etc. A tendência do reúso é realidade fática: tem por objetivo um novo comportamento humano, fruto de adoção da consciência de que a água é um insumo valioso.
No Nordeste é comum à existência de sanitários coletivos em bairros de periferia para mais de 30 famílias, com péssimas condições de uso. O que priorizar? O saneamento ambiental é vital para a vida e a filosofia da economia por reúso visa a otimização de uns parcos recursos que são vitais para o ser humano.
Precisamos de disciplinamento legal para o reúso e promovê-lo de forma planejada é o foco que se deve perseguir.
As tecnologias estão se proliferando, via tratamentos de efluentes, educação ambiental, lagoas de maturação, filtros biológicos de concreto, ozonização, tratamento de esgotos, etc. Estes são exemplos práticos das tecnologias do reúso.
O fato é que a água não é recurso inesgotável e, por isso, é necessário planejar o futuro, tratando do presente, encarando o reúso não mais como um processo exótico, mas como prática cotidiana e necessária.
Na Europa, existe inclusive projeto de remoção de produtos farmacêuticos e de higiene pessoal nos esgotos e instalações de tratamento de água. É o projeto Poseidon, cujo objetivo maior é fazer crescer o reúso indireto de água potável e de higiene pessoal.
A criatividade humana está em franca evolução, sobretudo nas pesquisas que se referem ao reaproveitamento racional da água. No nosso Nordeste há localidades onde o índice para a vida em comunidade é inferior a 2.500 metros cúbicos de água por habitante/ano (abaixo de 1.500 metros cúbicos a situação é considerada crítica, por tratar-se de nível mínimo vital).
Assim, está mais do que na hora de perseguirmos com determinação o reúso da água.


* Presidente do Sindicato da Indústria do Açúcar e do Álcool no Estado de Pernambuco - SINDAÇÚCAR