ATUAL COMPETITIVIDADE DO SETOR SUCROENERGÉTICO NO NORDESTE

Renato Augusto Pontes Cunha*

Somos sabedores que desde a época do Proálcool; o segmento sucroenergético no Nordeste, teve expansão limitada. Cresceu, sobretudo nos tabuleiros planos do norte de Alagoas, assim como naqueles, mais arenosos, da Paraíba e Rio Grande do Norte.

As áreas mais tradicionais da região, consolidadas em relevo acidentado, conseguem crescer verticalmente, com incrementos, paulatinos, de produtividade, oriundos do contínuo e consistente trabalho da rede RIDESA. No ano em curso, a citada Rede de conhecimento efetuou o lançamento em maio último de 7 novas variedades de cultivares, vocacionados para o ambiente, mais rústico, de produção do Nordeste, com conseqüentes maiores resistências a estresse hídrico.

A UFRPE – Universidade Federal Rural de Pernambuco mantém em Carpina – PE a Estação Experimental de Cana-de-Açúcar. No aludido Centro Genético ocorre desde o ano de 1998 parceria púlico-privada entre Universidade; integrante da Rede RIDESA e Associadas do Sindicato da Indústria do Açúcar e do Álcool – SINDAÇÚCAR, convênio de pesquisa canavieira, com destaque para melhoramento genético, o que tem sido bastante exitoso. Nestes 12 anos de parceria, foram lançadas 18 novas variedades da família “RB” desenvolvidas para o Nordeste. O contingente de cultivares “RB” já é atualmente de cerca de 60% (sessenta por cento) na região, tendo elevado a produtividade média do Estado de Pernambuco em cerca de 15 toneladas por hectare.

A coordenação da Estação está a cargo do competente e dedicado, Professor Djalma Euzébio. Na Estação, pesquisadores, à frente o Químico Francisco Dutra, isolaram e identificaram bactéria oriunda do melaço de cana que se constitui em Biopolímero. Esse plástico vem sendo utilizado em aplicações médicas, tais como: Em cirurgias como fio cirúrgico para sutura, parafusos, telas, próteses e gel como suporte para reconstrução de órgãos, bexiga e pele. Os Professores da UFPE, interagem com a UFRPE no Projeto. Os cientistas médicos, Drs. Salvador Villar, José Falcão Correia Lima, José Lamartine Aguiar e Nereide Stela do Santos Magalhães integram a vitoriosa equipe do Projeto.

Por outro lado, a logística tem sido a grande forma de minimizar e neutralizar parte dos custos mais altos do Nordeste, onde prevalecem atividades agrícola manuais, fortemente sociais, versus aqueles predominantes no centro-sul, onde existe mais estabilidade climática e conseqüentes reduções de gastos agrícolas nos “CCT’s” - Corte, Carregamento e Transporte (mecanização).

O cenário comparativo entre as duas regiões mencionadas, fundamenta-se pró Nordeste, a partir das adequadas condições de escoamento do produto nordestino ao exterior, quando, em média, as usinas distam, apenas, cerca de 60 (sessenta) quilômetros para os terminais portuários.

Os Portos de Natal, Cabedelo, Recife, Suape e Maceió, apresentam, sobremaneira, menos gargalos do que os existentes nos portos do centro-sul.

Nesse particular, no zoneamento do eficiente porto de Suape; o mais novo do Nordeste, já ocorrem investimentos para moderno terminal de açúcar refinado à granel, possibilitando-se a originação de maior valor agregado em açúcar com destino ao norte da África e Mediterrâneo, regiões, antes do painel da Organização Mundial do Comércio, movido por Brasil, Austrália e Tailândia em 2004/2005; supridas pela Europa (Antuérpia).

O novo terminal de “branco” de Suape trará “up grades” logísticos efetivos, incrementando equação de vendas, seguramente mais estável e rentável, alicerçada em calados com mais de 15 metros de profundidade; bastante versátil para navios de várias modalidades, acarretando “dispatch”; prêmios pela rapidez de carregamento.

O terminal – T.A.S. – Terminal Açucareiro de SUAPE, com capacidade estática de 160 mil tons e cadencia-hora de embarque de 750 toneladas, escoará branco à granel, permitindo também em seu pátio, o estufamento de containers, bem como embarques de açúcar ensacado, constituindo-se assim em terminal múltiplo. Os investimentos estimados estão na ordem de USD 60 (sessenta) milhões de dólares norte-americanos e dentro dos próximos três anos já deverá ocorrer o início de operações.

O advento acima, combinado com a evolução, ora em curso, de inversões, sobretudo em corte mecanizado de lavouras de cana, podem valorizar consideravelmente as unidades agroindustriais da região no curto prazo.

Nesse particular, nossas usinas associadas, criaram sob a gestão financeira do SINDAÇÚCAR-PE, um fundo de Inovação Tecnológica, a partir de iniciativas focadas em sustentabilidade ambiental, com diminuição, gradual, dos contingentes de corte de cana queimada, mesmo nas ladeiras e encostas das áreas agrícolas.

A iniciativa teve início na tradicional Usina Petribu. O Fundo de Tecnologia contratou o experiente Engenheiro Raul Fernandes, que viajou por mais de trinta dias a vários países do mundo em busca de tecnologia de colhedoras para corte em inclinações íngremes, e, o êxito começa a surgir com testes de máquinas francesas (Ilhas Reunion), japonesas e chinesas, vocacionadas para áreas de várzeas e para inclinações que vão principalmente de 12% a 70%.

Vale comentar ainda, acerca de outra estratégia estruturante na região, traduzindo-se na elevação que ora focamos, da capacidade de geração de Bioeletricidade, a partir da Biomassa (bagaço de cana), com conseqüente “retrofit” das nossas térmicas (caldeiras), perseguindo-se maior geração de mwh com aquisições de térmicas mais modernas e econômicas. Sem dúvida a geração distribuída de Bioeletricidade nas redes tende a crescer, sobretudo se a energia limpa passar a contar com remunerações em tarifas que contemplem as positivas adicionalidades geradas por nosso segmento. É uma questão de tempo, pois, o apelo ambiental é forte, verdadeiro e sustentável.

Renato Augusto Pontes Cunha
Presidente do Sindicato da Indústria do Açúcar e do Álcool no Estado de Pernambuco – SINDAÇÚCAR

 

* Presidente do Sindicato da Indústria do Açúcar e do Álcool no Estado de Pernambuco - SINDAÇÚCAR
(rcunha@sindacucar.com.br)