O BRASIL E A CRISE FINANCEIRA DO TERCEIRO MILÊNIO
Renato Augusto Pontes Cunha*

A palavra crise se origina no grego e significa “KRISIS” ou rompimento. Albert Einstein dizia que ela traz progressos, “sendo nela onde nascem as invenções, os descobrimentos e as estratégias. Quem a supera, supera a si mesmo, sem ficar superado”. Isto posto, é fato que um componente, nas grandes crises históricas, foi sempre a presença de crédito fácil, desatrelado a projetos geradores de círculo virtuoso. É quando o mercado financeiro, mesmo com taxas estáveis de inflação, supera em alavancar recursos, a Economia do desenvolvimento, e, também da geração de emprego e da renda.

A crise instalada, não é uma marolinha, até porque, no mundo globalizado atual, as economias estão entrelaçadas. Teve, no entanto, em grande parte,  seu surgimento fora do Brasil, exógena, notadamente com as distorções no mercado de imóveis norte-americano, com o excesso de lastro duvidoso, advindo dos diversos graus de hipotecas no sub-prime.

Os Bancos de Investimento estavam virando cassinos, pouco obedecendo às regulamentações dos Bancos Centrais, e, às regras da Basiléia. As aplicações financeiras e patrimoniais não eram CETIPADAS, para entendermos melhor, ocorrendo à revelia dos Bancos Centrais. Uma zorra total, com número muito menor de bons projetos de desenvolvimento, do que dinheiro em derivativos e aplicações financeiras heterodoxas. Eram muitos atores, se apropriando do lastro dos poucos projetos tangíveis e reais geradores de renda.

A situação dos Brics (Brasil, Rússia, Índia e China), exceto a China que não tem um mercado interno estruturado e sofisticado em perfis de consumo, embora possa se tornar mais abrangente, até como conseqüência da crise, e, lógico face sua imensa população, não é desesperadora, até porque contam com mercados internos em processo de crescimento e alargamento, ou seja, em ascensão.

O Brasil não está blindado, mas tem bons fundamentos econômicos, consolidados a partir da era pós-real, inclusive com mais de 70% de seu PIB anual, sendo oriundo das operações de mercado interno. Claro que os segmentos exportadores, deverão sofrer solução de continuidade, principalmente aqueles exportadores de maior valor agregado, ou, não commodities. Assim, os atuais excedentes exportáveis, podem diminuir os níveis de produção, o que poderá acarretar desemprego e recessão.

Outro fator desestruturante tem acontecido com a desarrumação dos mercados financeiros, com os bancos sofrendo grave crise de confiança, e, com o Brasil até exportando tecnologia como a do PROER (Gustavo Loyola).

Na história da humanidade, sempre existiram crises, e, países isolados, caso típico de Cuba, sempre, ou, há cinqüenta anos vem se costurando, sobretudo com suas próprias linhas.

O Brasil é culturalmente um país exótico, com uma mistura de raças que nos permite bom grau de criatividade no enfrentamento das crise, além do mais, nossos fundamentos atuais são sólidos com inflação controlada e reservas cambiais da ordem de cerca de US$ 200 (duzentos) bilhões de dólares.

Não estamos imunes, há de existir toda a cautela e mesmo com nossas riquezas, no Agronegócio, no Petróleo, nos Minérios, nas Madeiras e Manufaturados, ainda assim precisamos focar nas reformas fiscal e trabalhista, para que os empregos, se não forem gerados, serão mantidos, afinal, só dinheiro de Políticas Públicas, na maioria assistencialistas, não poderão segurar um desenvolvimento, sustentável, de longo prazo.

A crise internacional durará, falam os analistas em 3 a 5 anos, o que é pouco em termos históricos nos resultados globais, mas, prazo imenso, para quem não quer sair do ramo e perpetuar o negócio. 

Em resumo, concluímos que o mundo precisa convencionar qual o tipo de desenvolvimento que se almeja? Os mecanismos de controle e regulação na comunidade financeira global passam a ser determinantes.

Em nossa realidade, os analistas não almejam crescimento para o Brasil, superior a 1% a.a em 2009. O mundo terá que construir um novo “Bretton Woods”, isto é, uma nova institucionalidade.

   

Renato Augusto Pontes Cunha

* Presidente do Sindicato da Indústria do Açúcar e do Álcool no Estado de Pernambuco - SINDAÇÚCAR
(rcunha@sindacucar.com.br)