Uma Revolução Verde
Renato A. Pontes Cunha
Os computadores propiciaram ao mundo uma grande revolução no trato da informação, inclusive tornando usuais expressões e termos como hardware, winchester, mainframe, software, delete, etc. Também está ocorrendo na agricultura profunda transformação estrutural ligada à Biotecnologia. Essa transformação tem sido acelerada nos países do chamado Primeiro Mundo, mais vulneráveis a dificuldades de produção de alimentos, em médio prazo. A crise do abastecimento alimentar tende a recrudescer nesses 50 (cinqüenta) anos iniciais do atual século, face ao desajuste entre o crescimento populacional e a disponibilidade de água, energia e mão-de-obra qualificada, além das intempéries climáticas e dos efeitos químicos sobre a qualidade dos alimentos.

A moderna tecnologia tem dado atenção especial ao menor uso de defensivos agrícolas, a uma menor utilização da água, maior produtividade e mais qualidade dos produtos.

A engenharia genética surgiu em 1860, com as ervilhas do monge austríaco Gregor Mendel. Em 1930, ocorreu a descoberta do código genético de Watson e Crick, e só no final dos anos 70 é que pedaços de informação genética de um organismo passaram a ser introduzidos em outro. Em 1982, deu-se início à produção de insulina humana em laboratório para tratamento de diabetes. Um gene isolado produzindo insulina foi transferido para uma bactéria vegetal que ao se reproduzir liberava mais insulina. O método ocorreu com genes isolado e com análise de seqüência de genes, que nada mais é do que o código genético. As células, em seu núcleo, contêm os pares de cromossomos e dentro dos mesmos os milhares de genes. O ser humano, a título ilustrativo, possui 23 pares de cromossomos e cerca de 140 mil genes. Os genes transmitem caracteres hereditários, como a cor dos olhos, tipos de tecidos, etc. Um bom exemplo para o entendimento é o da casca da maçã, cuja coloração é genética. Assim, se houver transporte de seu gene para a banana, a pigmentação da banana passa a não ser mais amarela e sim vermelha. Surge daí o OGM, ou organismo geneticamente modificado (transgênico). O desafio é o cuidado com a ética na segurança alimentar. No Brasil esses limites estão fixados pela lei de Biossegurança n° 8974 de 1995, regulamentada pelo Decreto n° 1752 de 20.12.95.

Acertamos ao criar o CENBIO, vinculado ao Ministério de Ciência e Tecnologia, que tem competência legal para propor as políticas nacionais de Biossegurança e as que regerão o código de ética de manipulação genética (e, por conseguinte, dos OGM´s). Os projetos genomas são muitos e neles são estudadas as diversas características dos genes (distribuição total dos genes em qualquer organismo). No passado, perseguiam-se os melhoramentos agrícolas através dos cultivos selecionados e da hibridação. A Biotecnologia, quando eticamente manuseada, é a extensão desses melhoramentos tradicionais, com a diferença de que permite a transferência de uma maior variedade de informações genéticas de forma mais precisa e controlada.

Soja mais rica em ferro, tomate com maior incidência de vitamina A são conquistas da Biotecnologia (prevenção de degeneração muscular e de câncer). Hormônios, vacinas, medicamentos verdes fazem parte da terapia gênica de combate ao câncer, à aids, etc.

O curso da evolução é determinado pelos DNA´s ou códigos genéticos. No entanto, o desafio para a Biotecnologia, dentro da ética, é o de fazer com que os genes se adaptem cada vez mais ao meio-ambiente. Nesse particular, a agricultura atual também deve ter realização em compatibilidade com a melhoria do meio-ambiente.

O grande risco da Biotecnologia é o de perseguir características específicas na engenharia genética, para que seja alcançada a maximização de ganhos financeiros, em detrimento da saúde e do meio-ambiente. A manipulação da biologia natural tem que se vincular à melhoria de vida e não apenas à busca desenfreada de resultados econômicos. Acredito que dentro em breve, os modernos consumidores brasileiros - a exemplo do que ocorreu com a linguagem da informática - saberão distinguir entre genoma, OGM´s, transgênicos, código de DNA, cultivares, banco de genes, etc., sendo imprescindível para este intento, campanhas educativas capitaneadas pelo Governo Federal.

* Presidente do Sindicato da Indústria do Açúcar e do Álcool no Estado de Pernambuco - SINDAÇÚCAR