Canal do Sertão: Agroenergia e Alimentos
Renato Augusto Pontes Cunha*

É fato que as matrizes energéticas no terceiro milênio, começam a mudar, criando mais independência dos combustíveis fósseis. A agroenergia, conseqüentemente, ganha novos espaços, funcionando como grande redutora do efeito estufa. Os mercados de alimentos e energia passam por forte intersecção. O Etanol combustível intensificando a utilização da cana-de-açúcar, do milho e da celulose. Por outro lado, a agricultura das oleaginosas destinando-se ao Biodiesel e a alimentos.

O Brasil pode e deverá liderar o mercado dos Biocombustíveis, gerando mais empregos agroindustriais e fortalecendo novos “agriclusters” que se consolidarão, sobretudo, em novas fronteiras agrícolas, com adequada logística e tecnologias de irrigação. A Bioenergia do Etanol, por si só, é cientificamente viável quando o petróleo supera os níveis dos US$ 30,00, enquanto o Biodiesel, ainda em processo tecnológico de amadurecimento, começa a fazer sentido, segundo especialistas, a partir de barris de petróleo, superiores a US$ 60,00. Porém, o nosso País com seu sol tropical e suas boas terras, à luz de um adequado zoneamento agroecológico deverá, em poucos anos, criar escala em agricultura de culturas, tais como; soja, amendoim, dendê, pinhão manso, mamona, girassol e etc, o que certamente forçará queda de custos para patamares inferiores ao equivalente a US$ 60,00 o barril.

A Petrobrás, Empresa referencia mundial em energias, já dispõe, inclusive, de uma unidade de fabricação de Biocombustíveis em Guamaré-RN, com tecnologia de aproveitamento da mamona, tendo o Etanol como reagente na transesterificação.

Em aderência ao novo contexto que o mundo cria com as agroenergias, Pernambuco poderá ter saltos de quantidade e qualidade, modernizando ainda mais sua agricultura, a partir dos 520 km projetados do canal do sertão, com mais de 130.000 ha de terras férteis irrigáveis só no lado pernambucano, afora cerca de mais de 30.000 ha na Bahia. O modelo do referido canal utilizará a água do São Francisco, a partir do lago de Sobradinho com vistas ao abastecimento humano, a agroalimentação; nos casos das frutas e açúcar, além do Etanol, Biodiesel e Bioeletricidade, oriunda da Biomassa da cana-de-açúcar que também poderá ter destino às finalidades energéticas, no Pólo de Gesso do Araripe, através dos Briquetes de Bagaço, bem como para compostagem de alimentação para o pólo ovino-caprino do sertão.

Por outro lado, já se fala na criação da Embrapa Agroenergia, com papel de coordenação de pesquisas e investimentos em meio-ambiente de maneira a fortalecer um programa nacional de agroenergia, justamente na atual fase mundial, quando há um mercado externo de Biocombustíveis em formação. Um desafio já apontado por estudiosos é o alcance de referenciais de produtividade entre 2000 e 5000 kg/ha nas matérias primas.

Por encontrarmo-nos em um Estado que tem forte tradição na produção sucroalcooleira, com capital intelectual acumulado no mundo privado e nas nossas universidades, acreditamos que Pernambuco apresenta condições de liderar a criação de um Pólo-Nordeste, de Biocombustíveis e energias limpas, perseguindo a interiorização de seu desenvolvimento, como consta das diretrizes da Secretaria Estadual de Desenvolvimento Econômico.

A tendência da produção dos Biocombustíveis passa pela desconcentração de investimentos nas terras do Centro-Sul, região que começa a apresentar gargalos, dificultadores do escoamento logístico da produção. Além do mais, nosso País já dispõe de marco regulatório para o Biodiesel, prevendo a Lei n° 11.097 de 2005 o combustível B2, com 2% de adição ao diesel mineral até 2008 e o B5 com 5% de mistura de óleo vegetal no diesel tradicional até 2013. Vale lembrar que o Nordeste consome cerca de 15% do diesel total do País, volume estimativo equivalente a +- 120 milhões de litros de espaço para o B2 e cerca de 300 milhões para o B5, só na nossa região. Esse mercado deve ser abastecido por produto, preferencialmente nativo do Nordeste, criando-se um ciclo econômico próprio, como ocorre com a cana-de-açúcar e seus derivados, o que elevará a dinâmica econômica da nossa região.

Numa estimativa anual de produção de cerca de mais de 10.000.000 de toneladas de canas, futuramente existentes, no canal, haveria consumo e produção de insumos no Oeste de Pernambuco, mantendo-se a população daquela região com mais empregos (cerca de mais de 30.000 novos postos diretos), estimulando-se a comunicação das cadeias produtivas do Estado. Como exemplo, o canal, com a produção de canas, consumiria anualmente, algo em torno de até 140.000 toneladas de gesso agrícola do Araripe, podendo fornecer também para as indústrias de gesso até 3,5 milhões de toneladas de briquetes de bagaço, por safra, para finalidades energéticas de cunho sustentável em compatibilidade com as boas práticas de preservação ambiental.

Confiamos assim, na capacidade de gestão dos Empreendedores de Pernambuco, bem como na determinação, de articulação, do Governo de Pernambuco, no intuito da edificação do canal, obra que muito contribuirá para a regionalização do desenvolvimento com sustentabilidade sócio-ambiental, favorecendo a inclusão social, tão necessária à qualidade de vida do homem do Nordeste. Estaremos empenhados em cooperar com o andamento desse Projeto estratégico pata o agronegócio do Nordeste.

* Presidente do Sindicato da Indústria do Açúcar e do Álcool no Estado de Pernambuco - SINDAÇÚCAR
(rcunha@sindacucar.com.br)