Desemprego na entressafra

Renato Augusto Pontes Cunha*

A Economia de Pernambuco conseguiu penetrar, nos últimos anos, num corredor de desenvolvimento que pressupõe uma firme reformulação de nossas atitudes políticas e empresariais. Já não é cabível abrir mais espaços para excessivas divagações ideológicas, que tanto atrasaram a consolidação de nosso desenvolvimento. Na atualidade, é factível a construção de um tempo moldado por iniciativas em torno de ações voltadas para a eliminação de pontos de estrangulamento de nossa economia. A infra-estrutura do Estado já começou a despertar grandes investidores e um adequado e amplo respaldo estratégico a inovações estruturadoras é fundamental para o fortalecimento de iniciativas geradoras de emprego e renda.

No agronegócio, a luta tem por foco a sua modernização, de modo a que esse importante segmento de nossa economia possa enfrentar a competitividade não apenas de outros Estados, mas também do dinâmico mercado internacional. Pernambuco tem uma economia plural, está ampliando a sua capacidade de geração de empregos e, como conseqüência, num futuro muito próximo poderá dispor de instrumentos capazes de possibilitar uma mais justa inclusão social.

Alguns fatos merecem reflexão. Vejamos;

SUAPE é uma realidade que convive com uma economia extremamente diversificada, alicerçada tanto em pólos agro-industriais – como é o caso do Vale do São Francisco com sua produção de frutas diversas em municípios como Petrolina, Jatobá, Ibimirim, Petrolândia, Inajá e outros, como em zonas industriais que se estendem até o interior do Estado, exemplo do pólo gesseiro da região do Araripe. Acrescente-se ainda o turismo rural, a piscicultura, o cultivo do sorgo, a avicultura e a pecuária. No que diz respeito à economia canavieira os avanços tecnológicos têm sido importantes na produção do etanol, na energia de biomassa (bioeletricidade) e na produção de açúcar. Como complemento de nossa matriz energética, o biodiesel etílico da mamona é um outro arranjo produtivo que poderá amadurecer nos próximos anos.

O desenvolvimento não é apenas resultante de cálculos econômicos e da vontade dos investidores. Ele envolve um somatório de outros fatores: geográficos, recursos humanos e tecnológicos, condições climáticas e ambiências política, religiosa etc. Mas, entre eles não se pode minimizar a importância da auto-estima. Esses fatores começam a caracterizar positivamente nosso Estado e já estão permitindo atrair novos investimentos.

Por outro lado, o Governo Federal anuncia muito e materializa aquém daquilo que promete. A ferrovia Transnordestina, a transposição do Rio São Francisco, as recuperações das principais estradas federais (BR’s) são exemplo da distância entre a promessa e a ação. No agronegócio, não é diferente. É amplamente sabido pelos técnicos do Governo Federal que a cana-de-açúcar é de longe o maior empregador de mão-de-obra da região. Também é reconhecido que só poderá haver estabilidade no Nordeste com a implantação de políticas públicas que promovam uma correta gestão dos recursos hídricos e concorram para uma maior absorção de nossa mão-de-obra, principalmente nas entressafras. A manutenção do emprego nas atividades sazonais, através da ocupação de pessoal em cursos de qualificação profissional, por exemplo, é iniciativa que bem poderia promover uma nova dinâmica e a eliminação do grave problema da sazonalidade.

As políticas de proteção social no Nordeste canavieiro exigem o equacionamento das variáveis trabalho e treinamento. A qualificação de nossa mão-de-obra contribuiria para estabilizar os níveis de emprego, notadamente na ocorrência de descompasso entre receitas e despesas nos fluxos de caixa dos empreendimentos agrícolas. A despeito das limitações de nosso relevo e de nosso clima, o Agronegócio, semimecanizado, da cana-de-açúcar em Pernambuco é competitivo, inclusive com custos logísticos inferiores aos do centro-sul, já que nossas unidades de produção estão, em média, localizadas a cerca de 70 km dos portos. Numa época em que as condições logísticas assumem importância predominante não se pode desprezar esse diferencial estimulador de aumento de escala.

Agora, o que é preciso é decisão para fazer, decisão para articular recursos do FAT e da CIDE e destiná-los a projetos, como os da cana, que envolve numerosa mão-de-obra com pouca qualificação, mas susceptível de aprimoramento através de treinamento em eficiência de produtividade.

As condições de vida dos pólos automobilísticos do ABC Paulista, de Minas Gerais e do Paraná, assim como as renúncias fiscais da Zona Franca de Manaus e os royalties do Petróleo no Estado do Rio de Janeiro são exemplos de que o Governo Federal protege setores que, inclusive, empregam muito menos do que a cana-de-açúcar no Nordeste.

Por tudo isso, continuaremos perseguindo, junto ao Governo Federal, a implementação de um modelo que promova a erradicação do desemprego nas fases de “baixa” de nossas atividades sazonais.

 

* Presidente do Sindicato da Indústria do Açúcar e do Álcool no Estado de Pernambuco - SINDAÇÚCAR
(rcunha@sindacucar.com.br)