Geração Estrutural de Investimentos

Renato Augusto Pontes Cunha

O Governo Federal criou em 21 de outubro passado, através de Decreto do Presidente da República, um Grupo Interministerial, com a finalidade de, num prazo de até 120 (cento e vinte) dias, analisar a situação sócio-econômica do setor sucroalcooleiro do Nordeste.

Segundo nosso ponto de vista, o objetivo maior do Decreto será a tentativa de implementação de um modelo sucroalcooleiro capaz de oferecer competitividade vis-à-vis a nossa maior geração de empregos e os menores custos das usinas e/ou destilarias do Centro/Sul, influenciados naquela região, sobretudo, por questões relacionadas à topografia e conseqüentes altos índices de mecanização.

O fato é que a capacidade e a confiança para a realização de investimentos aumentam quando os governos induzem a formação de cenários de estabilidade econômica, a exemplo dos programas Prórenor e Próresul, do Governo de Pernambuco. Tais programas foram implementados para fazer frente aos desastrosos resultados da safra 1999/2000, quando o Estado chegou à inflexão de um quadro de esmagamento de canas de apenas 13 (treze) milhões de toneladas – diante de uma média estadual, anual, de cerca de 18,5 milhões de toneladas nos últimos 20 (vinte) anos. Assim, no período 1998-2000, os investidores/empreendedores do nosso Estado viram-se estimulados, e mesmo cientes das limitações topográficas de nossas Zonas da Mata, não se intimidaram em tentar soerguer suas atividades.

Nos últimos anos, o segmento sucroalcooleiro investiu somente em acúmulo de águas em barragens privadas – notadamente na Mata Norte, onde a seca de 98/99 foi drástica –, mais de R$ 40 (quarenta) milhões de reais, montante indutor de outros investimentos via irrigação, por exemplo, onde valores podem ser estimados em cerca de mais R$ (20 vinte) milhões de reais.

O setor prepara-se para moer, na safra em curso, atual, aproximadamente 19 (dezenove) milhões de toneladas, quantidade superior em 46% ao volume da inflexão em 99/00 e maior do que a média de 18,5 milhões de toneladas dos últimos 20 (vinte) anos.

No quesito bioeletricidade – ou térmicas de Biomassa, assim como nas pequenas centrais hidrelétricas – os investimentos dos últimos 5 (cinco) anos são superiores a R$ 30 (trinta milhões de reais), notadamente após o período do apagão de 2001. Por outro lado, estima-se que apenas em manutenção programada das nossas indústrias – ou apontamento industrial e adaptação de versatilidade de processo industrial para linha de açúcar VHP – foram investidos cerca de R$ 130 milhões na última entressafra. Acrescente-se a esses valores despesas com mão-de-obra, insumos industriais, fundações/renovações de lavouras, assim como tratos culturais de canaviais que deixamos, agora, de mensurar. Apenas no quesito fertilizantes agrícolas são empregados mais de R$ 120 milhões em cada ano-safra.

Tais números demonstram que o setor sucroalcooleiro é o maior investidor privado e permanente da economia de Pernambuco, injetando renda líquida que garante e assegura emprego, e conseqüente remuneração, a mais de 500.000 pessoas (direta e indiretamente).

Além disso, o segmento é grande consumidor de chapas, perfis, vigas, cantoneiras, rolamentos, gachetas, soldas, cimentos, tijolos, tubulações, bombas hidráulicas, motores e materiais elétricos, peças de caminhões e tratores, implementos agrícolas, pneus, lubrificantes, combustíveis, caldeiraria, informática, transporte de produtos finais, etc do Estado, o que ancora fluxos tributários, de emprego e de renda na nossa economia. Essa é a razão, por exemplo, pela qual o estaleiro da Camargo Correia estará também sendo implantado em Suape. Porque , além de motivos de natureza logística e operacional, existe em Pernambuco um pólo comercial de produtos siderúrgicos, com tradicionais empresas fornecedoras de materiais ao nosso parque industrial e que se tornarão supridoras da nova indústria naval do Estado.

O açúcar, o álcool e os derivados da cana são produzidos em mais de 120 países e consumidos por milhões de pessoas e inúmeros automóveis em todo o mundo, razão pela qual o vigor de suas cadeias produtivas é tanto ou até mais estratégico e relevante do que os eventuais possíveis acréscimos, pontuais, de valores agregados, obtidos nas vendas dos produtos finais. O ideal é o que vem sendo perseguido pelas unidades produtoras de Pernambuco, tentando alavancagem de eficiente balanceamento entre maiores valores agregados de vendas, controle de estabilidade de custos de produção, verticalização da produção e aprimoramento sócio-ambiental nos elos da cadeia produtiva.

* Presidente do Sindicato da Indústria do Açúcar e do Álcool no Estado de Pernambuco - SINDAÇÚCAR
(rcunha@sindacucar.com.br)