Comércio e sustentabilidade sócio-ambiental

Renato Augusto Pontes Cunha

Os especialistas em análise de comportamento do consumidor sinalizam para o presente milênio a tendência de que o consumo se tornará, cada vez menos focado somente sobre preços. Tornar-se-á mais difundida uma conduta comportamental apoiada em vários outros fatores. Mas, sobretudo, naqueles que garantam a utilização de processos de transformação agroindustrial susceptíveis de diferenciar produtos, dotando-os de atributos compatíveis com uma política de sustentação sócio-ambiental, de maneira a torná-los totalmente, “politicamente corretos”. Estamos chegando, finalmente, à era do consumidor-cidadão, com menu de decisão de compra alicerçado na melhoria das condições sócio-ambientais do planeta. Uma fiel adesão a esse novo padrão de consumo efetiva-se mediante a comprovação, por parte do vendedor, de que seus produtos foram fabricados de acordo com normas internacionalmente aceitas, respondendo a exigências sugeridas por uma correta gestão sócio-ambiental.

No setor sucroalcooleiro de Pernambuco há muito ganhou densidade a certeza de que ninguém conseguirá tornar-se agente da sustentabilidade através de simples passe de mágica. Por essa razão, nossas empresas vêm se credenciando fortemente, em seus dia-a-dia, dentre outras iniciativas, através de certificações Abrinq (com conseqüentes compromissos com a erradicação do trabalho infantil e não empregabilidade da criança e do adolescente), processos de qualidade ISO em produtos finais, selos de colaboração filantrópica com hospitais e parcerias educacionais para mais de 10.000 alunos com os municípios canavieiros, ações que foram coroadas com o prêmio, recebido pelo SINDAÇÚCAR em nome das usinas, TOP Social da ADVB-Nordeste em março do ano em curso. Há alguns anos, iniciaram-se também os trabalhos para a recomposição da mata ciliar das margens de cursos hídricos do Estado que cortam as áreas das empresas, através do plantio, de espécies nativas tais como ingá, salgueiro, jaqueira d'água etc. Essa ação é complementada pela abertura de novos corredores florestais de mata atlântica, implantados com o intuito de unir fragmentos de matas e possibilitar o desenvolvimento da fauna local, conforme constatação da “National Geographic”, edição de março de 2004, sobre o grupo empresarial das Usinas Trapiche/Serra Grande.

Responsabilidade sócio-ambiental é, por conseguinte, decisão de conduta requerida pela cidadania, que se estende também aos canais de distribuição do comércio internacional.

Por outro prisma, o Brasil vem se destacando na internacionalização de seus produtos agropecuários, inclusive começando a ganhar ações contra os protecionismos agrícolas, em painéis jurídicos na OMC, o que, em contrapartida, acirra os ânimos de países ditos desenvolvidos que passaram, recentemente, a criar barreiras sanitárias e a alegar que o nosso País só é líder em competição internacional em razão de sua menor consciência sócio-ambiental do que no suposto Primeiro Mundo.

Tal análise é absolutamente subjetiva, parcial e desprovida de transparência de critérios. Afinal, diferentemente de outros países, como os Estados Unidos e a Rússia, somos signatários e entusiastas do Protocolo de Quioto e já operamos no mercado de seqüestro de créditos de carbono através da energia de biomassa ou bioeletricidade. Os Estados Unidos não parecem querer integrar Quioto e a Rússia só agora irá submeter a seu parlamento a ratificação para 2005. Além disso, contamos com o positivo impacto ambiental promovido pelo consumo do etanol de cana brasileiro utilizado pelo parque automobilístico do Brasil, colaborando com as reduções do efeito estufa da terra. Tudo isso credencia o nosso País a se tornar líder mundial em matéria de promoção de melhoria ambiental em escala planetária.

O Brasil poderá, assim, tornar-se grande indutor de uma nova ordem internacional, através de uma política de utilização de biocombustíveis, em substituição àqueles de natureza fóssil. Para esse objetivo é fundamental que nossas ações no setor da agroindústria continuem sendo, também, inquestionavelmente de vanguarda, promovendo, para o mundo, segurança alimentar, qualidade e saúde ambientais, de forma a assegurar nossa sustentabilidade.


* Presidente do Sindicato da Indústria do Açúcar e do Álcool no Estado de Pernambuco - SINDAÇÚCAR
(rcunha@sindacucar.com.br)