Mercosul - União Europeia

Renato Augusto Pontes Cunha*

No início do corrente mês, na sede da CNI em Brasília, ocorreu a última reuniãoda coalizão empresarial brasileira sobre estratégias para as negociações MERCOSUL-União Européia, preparatórias à reunião do Itamarati, em  Buenos Aires, entre 7 e 11 de junho de 2004. A CEB, Coalizão Empresarial Brasileira, é informal e tem por objetivo municiar os negociadores brasileiros nos diversos fóruns internacionais, a partir de discussões dentro do segmento empresarial brasileiro. Esse fórum decidiu acatar nossa sugestão de criar um plano B, para a eventualidade de que se chegue à conclusão de que a Europa não flexibilizará sua política referente aos subsídios agrícolas. Esses subsídios, no caso do açúcar, funcionam mascarados por regimes de cotas, classificados em cotas A, B e C. Dentro do sistema da cota do tipo “A”,  a UE – União Européia compra açúcar a preços mínimos, em volumes equivalentes ao consumo dos países membros, não podendo os produtos serem exportados. A cota “B” está sujeita a subsídios para a exportação, o que distorce a livre competição no mercado mundial (free trade). Quanto à cota “C”, ela regula os excedentes da cota “B” que são destinados à exportação.

Brasil, Tailândia e Austrália questionam, num painel jurídico na OMC (Organização Mundial de Comércio), as exportações incluídas na modalidade “C”, mecanismo através do qual o açúcar passa a ser exportado. Esses países consideram que tal exportação ocupa espaços da livre competição à luz de preços inferiores aos custos de produção européia, em função de subsídios cruzados do sistema de cotas “A” e “B” que bancam os preços da cota “C”. Consideram que tal mecanismo resulta numa indevida invasão de mercados, favorável à Europa e em detrimento, sobretudo, ao espaço que poderíamos (Brasil) alavancar na Ásia.

Mais grave ainda, os europeus também reexportam produtos comprados do sistema ACP (África, Caribe e Pacífico) produzidos na origem a custos mais baixos do que os produtos europeus.

O Brasil é imbatível em custos e escala econômica na agricultura. No entanto, se a questão dos subsídios europeus, americanos e asiáticos for intransponível, não podemos ficar condenados apenas a nos lamentar nos fóruns internacionais, sem criarmos alternativas de soluções. É nesse contexto que propusemos, na última reunião da Coalizão Empresarial Brasileira, uma reflexão para a montagem de um plano “B” na CEB. Como exemplo, através da criação de um bônus de competitividade a ser pago por um tempo determinado, de forma a criar um equilíbrio na competição, através de um organismo financeiro internacional com fundos arrecadados nas políticas agrícolas (PAC) da Europa ou na Farm Bill norte-americana. O mecanismo em referência parece-nos mais saudável e mais criativo, do que ficarmos apenas contestando subsídios e reclamando de políticas que nos são prejudiciais, em vez de criarmos alternativas para o nosso crescimento.

Açúcar, malte, cevada, trigo e lácteos são fortemente subsidiados no mercado mundial, razão pela qual a tendência é de que passem a ser produzidos fora do continente europeu, o que resultará, a médio e longo prazos, na terceirização do seu suprimento. É a partir dessa visão de futuro que estamos nos preparando, particularmente no que se refere ao Brasil sucroalcooleiro, para o crescimento e inovações tecnológicas (por exemplo, no domínio da  autogeração de energia) que privilegiam a cana-de-açúcar em relação a outras matérias-primas, como o milho e a beterraba, que não dispõem de fibras de Biomassa .         

* Presidente do Sindicato da Indústria do Açúcar e do Álcool no Estado de Pernambuco - SINDAÇÚCAR